Mercado Indy | A Festa da Cerveja

A Fórmula Indy é uma competição mais aberta para ações pontuais de marketing. Diferente da Fórmula 1, a competição de origem estadunidense tem a possibilidade de pinturas diferentes para carros de uma mesma equipe. A inclusão de mais de dois carros em uma mesma prova e de pilotos que participem apenas de algumas corridas são outros pontos que favorecem o aparecimento de parceiros esporádicos. E com as corridas sendo realizadas em locais tão diferentes como Japão, Brasil, EUA ou Canadá, esses patrocinadores podem ainda ser locais, associados a cidade ou ao país onde a prova está sendo realizada.

  

Na última etapa realizada na capital paulista, algumas marcas nacionais aproveitaram dessas peculiaridades da Indy e de sua passagem pelo país. Quem mais explorou essa situação foi a Cerveja Itaipava, que além de ser uma das marcas a dar nome a etapa (a outra foi a Nestlé), também patrocinou os carros de Tony Kanaan e Hélio Castroneves. Os dois mais experientes pilotos brasileiros na Indy estão competindo em equipes de expressão. Tony está na KV, uma equipe de médio porte que já alcançou bons resultados este ano. Já Hélio está em condições ainda melhores, é piloto da Penske, a melhor equipe do campeonato até o momento. Sinal de que muito dinheiro foi empregado nas ações pela Itaipava, pena que as participações desses pilotos não foram muito boas. Kanaan e Castroneves se envolveram em alguns acidentes ao longo da prova, o que os levaram para uma disputa mais na parte de trás do pelotão. De qualquer forma, os acidentes geraram uma boa exposição e existiam outras placas espalhadas pelo circuito. A TV Bandeirantes também ajudou, sempre colocando os pilotos brasileiros em entrevistas e em destaque ao longo da transmissão.

Raphael Matos e Bia Figueiredo foram outros dois pilotos brasileiros a contar com patrocínios locais. Matos levava em seu carro vermelho o logotipo da cerveja Schin, patrocinador que já estava presente em outras provas, mas em menor destaque. A pilota brasileira Bia Figueiredo também levava em seu carro um parceiro de outras provas. A empresa de combustível Ipiranga patrocina a brasileira desde o ano passado, mas este ano Bia vai participar de um número maior de corridas ampliando a exposição da marca nas transmissões da Fórmula Indy. A marca também soube explorar o período de recuperação da pilota. Tratando de uma lesão no punho provocada pela colisão de seu monoposto com um rival na primeira prova do ano, Figueiredo está utilizando uma proteção para mobilizar a região. O marketing da Ipiranga não bobeou e estampo a marca nessa proteção, já pensando nas possíveis fotos que ilustrariam matérias sobre a recuperação de Bia. Outra marca brasileira presente no carro da pilota foi a Monange. O interessante é que temos uma marca ligada ao mundo automobilístico, Ipiranga, e outra de cosméticos femininos, que aproveita bem a presença de uma mulher brasileira em um esporte tão masculino. Além de ser muito bonita, Bia sempre tem aparecido nas entrevistas e sessões de fotografias com um visual bem cuidado. Afinal de contas ela leva no macacão uma marca ligada a cuidados estéticos.

  

Como a próxima corrida será a famosa 500 milhas de indianápolis, é de se esperar que novos e fortes patrocinadores apareçam nas máquinas da Indy. A etapa é a mais tradicional do calendário e atrai uma audiência monstruosa, tornando assim um momento muito propício para ações de grande impacto, principalmente para marcas com atuação nos EUA.

Mercado F-1 & Indy | O retorno da lendária Lotus

O esporte a motor está ligado desde os seus primórdios à indústria automotiva. Fabricantes usam as competições como meio para o desenvolvimento de tecnologias e materiais, além disso o esporte a motor é um universo simbólico atraente para o marketing dessas empresas. É muito interessante, em termos mercadológicos, vincular uma imagem vencedora, esportiva e masculina às marcas e aos produtos automotivos. Algumas equipes de competição também fazem o caminho contrário ao se tornarem fabricantes de automóveis de passeio esportivos, trazendo das pistas as bases de sua estratégia de negócio: conhecimento técnico e um imaginário simbólico de sucesso.

Um dos melhores exemplos desses laços entre competição e a indústria automotiva é a Lotus. A marca nasceu das mãos de Collin Chapman em 1947. Quando ainda era estudante de engenharia na Inglaterra, Chapman criou o seu Lotus Mark I, um carro desenvolvido para competições de trial e que usava a mecânica do Austin Seven. A partir daí uma série de outros carros artesanais para competições se seguiram, até que em 1952 o engenheiro inglês e sua mulher resolvem criar a Lotus Enginering Co. A empresa passa então a fabricar seus esportivos de forma mais industrial. Em 1957, Chapman tenta a sorte como piloto na Fórmula 1, guiando um Vanwall. No ano seguinte a Lotus entra definitivamente na categoria com o seu primeiro monoposto, o Type 12, que possuía um revolucionário sistema de suspensão. Outras inovações tecnológicas marcaram a passagem da Lotus pela F-1, principalmente as relacionadas a aerodinâmica. A mais marcante delas foi o famoso carro-asa onde a forma do assoalho e do aerofólio aumentavam a velocidade nas curvas.

Além de desenvolver grandes máquinas, a Lotus ficou também marcada por seus grandes pilotos. A equipe original competiu de 1958 até 1994 e o período mais vitorioso foi sem dúvida os anos 60 e 70. Foi nessa época que a equipe conquistou os seus 7 títulos como construtora e os seus 6 títulos de pilotos com Jim Clark (1963 e 1965), Graham Hill (1968), Jochen Hint (1970), Emerson Fittipaldi (1972) e Mario Andretti (1978). Desses pilotos, o mais emblemático é sem sombra de dúvida Jim Clark. Além de ser o primeiro piloto a ser campeão pela Lotus, Clark passou toda a sua carreira na Fórmula 1 correndo pela equipe. Foi ele também que conquistou a primeira vitória da Lotus nas 500 milhas de Indianápolis, no mesmo ano em que se tornaria bicampeão da F-1. Essas incursões da equipe pelos EUA e suas vitórias foram marcantes para a história do automobilismo. Não apenas por ter sido uma equipe européia vitoriosa do outro lado atlântico, mas principalmente por ter popularizado a propulsão traseira nos monopostos utilizados nos Estados Unidos.

Com todo esse valor histórico, não é de se estranha que quando a marca Lotus resolva voltar para as competições de fórmula, escolha as cores emblemáticas do carro que foi pilotado por Jim Clark. O ano escolhido para o retorno foi 2010, após a crise econômica que assolou a indústria do automóvel e forçou a debandada de vários fabricantes em diferentes tipos de esporte a mortor. Na Indy, a Lotus passou a ser patrocinadora de Takuma Sato na equipe KV. Na Fórmula 1, a marca retornou pelas mãos do malaio Tony Fernandes que montou uma nova equipe com o nome e o também clássico verde e amarelo da Lotus.

Em 2011, a presença da Lotus de certa forma se ampliou. Na Fórmula 1, o desentendimento entre a Proton, fabricante malaia atual proprietária da Lotus Car, e o empresário Tony Fernandes gerou a criação de duas equipes com o mesmo nome Lotus. A equipe de Fernandes teria os direitos de uso da marca Team Lotus (a antiga equipe de F-1) que seria de propriedade dos herdeiros de David Hunt, um ex-piloto. Já a fabricante de esportivos Lotus Car resolveu patrocinar a equipe Renault que foi comprada pelo grupo de investimentos Genii. A equipe agora se chama Lotus Renault e a montadora malaia dona da marca foi a justiça inglesa para retirar os direitos de Tony Fernandes. Apesar de terem um nome em comum, a diferença entre essas equipes é gritante em termos de performance, além de usarem cores bem diferentes. A pequena e fraca Team Lotus manteve as tradicionais cores verde e amarela usadas nos anos 60. Já a grande Lotus Renault  buscou inspiração nos carros dos anos 70, com o preto e o dourado da John Play Special, patrocinadora da Lotus naquela época.

A Indy teve também um aumento significativo na presença da Lotus. A parceria com a KV foi estendida e agora além de Takuma Sato, os pilotos Ernestro Viso e Tony Kanaan levam o verde e amarelo da marca inglesa de esportivos. O envolvimento simbólico é ainda maior no carro de Kanaan. O brasileiro tem em seu carro o número 82, o mesmo que Jim Clark usou na sua vitoriosa participação nas 500 milhas de Indianápolis em 1956. E parece ter dado sorte a Tony, já que o piloto terminou em terceiro no primeiro GP do ano.

Esse envolvimento da Lotus com a Indy vai ser ainda maior a partir de 2012. O novo regulamento da categoria levou ao desenvolvimento e adoção de um novo carro (que é padrão para todas as equipes) que poderá receber pacotes aerodinâmicos desenvolvidos por diversas empresas. Uma das que se interessaram é a própria Lotus. Além dos kits a empresa será uma das fornecedoras de motores para categoria, disputando espaço com a Chevrolet e atual fornecedora, a Honda.

Temos então uma marca com todo um histórico de sucesso e envolvimento com o esporte a motor. Retornando em um momento importante e muito interessante. Além de aproveitar o espaço aberto com a debandada de vários fabricantes da F-1 e da Indy, a Lotus Car está preparando o lançamento de novos carros esportivos de passeio para os próximos anos. E nada melhor que reforçar o caráter de esportividade e velocidade de seus produtos com a imagem de competições que trazem justamente esses valores. Uma ligação que não é superficial, não apenas porque existe toda uma memória relacionada a participação de sucesso da equipe Lotus nos anos 60 e 70, mas também porque a empresa por trás da marca se envolve diretamente com a parte de desenvolvimento tecnológico dessas categorias.

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