Mercado F-1 | Marcas em Xangai

 

A Fórmula 1 é um esporte que desperta o interesse de milhões de espectadores ao redor do mundo. Essa audiência atrai patrocinadores que podem estampar suas marcas das mais diversas formas. Além da própria pintura dos carros, os ditos parceiros podem aparecer em placas nos autodrômos, durante a transmissão dos GPs na TV, em detalhes dos macacões de pilotos e mecânicos, bonés, nos motorhomes etc.

No GP da China deste ano, três marcas chamaram em especial a atenção deste blog. Como na F-1 existe uma certa recorrência na exposição das marcas, com acordos sendo feitos geralmente com prazos mais longos, qualquer mudança sutil ou a inclusão de um novo logotipo acaba por se destacar mais do que já é padrão na F-1. Em Xangai, o detalhe que mais chamou atenção foi a cor do macacão dos pilotos da McLaren. A equipe inglesa tem como padrão a cor branca com uma faixa vermelha acomodando o principal patrocinador da equipe na altura da barriga, que é neste caso a empresa de telefônia Vodafone. Mas, durante o treino de classificação para a corrida, Button e Hamilton utilizaram um fardamento na cor vermelha, lembrando muito o padrão da McLaren nos tempos de Senna e Prost. A mudança nas cores se deu pelo fato de que a Hugo Boss e a equipe inglesa estarem comemorando 30 anos de parceria. Tudo indica que essa mudança nas cores acontecerá a cada nova corrida, já que a empresa está como um ação na internet em que convida as pessoas a desenharem modelos diferentes para o vestuário dos pilotos.

Os boxes da Williams também chamaram nossa atenção. A outra tradicional equipe inglesa tem como uma de suas patrocinadoras a empresa de relógios suíços Oris. A marca da empresa apareceu não apenas na pintura do carro (mais precisamente na asa dianteira), mas também no chamado “pirulito” utilizado para informar aos pilotos o momento certo de engatar a marcha e sair dos boxes após o pitstop. Como o pirulito tem na ponta uma chapa em forma de círculo, foi feito um layout que se assemelhou a um dos relógios da marca suíça.

Os relógios realmente foram uma atração a parte na China. Além da parceira da Williams, outra marca desse tipo de produto que se destacou em Xangai foi a Hublot. A empresa fechou um acordo com a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para ser o relógio oficial da F-1. Para dar a devida visibilidade a esse patrocinador, a FIA colocou na entrada dos boxes em Xangai um grande relógio analógico e ao seu lado uma placa com a marca Hublot. O local foi um foco especial de atenção ao longo do GP, já que a troca de pneus foi intensa.

Tívemos então Hugo Boss, Oris e Hublot como marcas que mais se diferenciaram no GP da China. Por sinal, marcas de produtos de luxo e de alto renome nos mercados em que atuam. Algo muito natural, já que a F-1 está ligada a grandes marcas de produtos luxuosos como Ferrari e Mercedes. Além do mais o constante crescimento econômico da China está levando a um consumo maior de produtos de alto valor, o que também justificaria a presença de tais marcas.

O próximo Grande Prêmio será na Turquia, estaremos atentos para aparições de novas marcas ou diferentes ações.

Mercado F-1 & Indy | O retorno da lendária Lotus

O esporte a motor está ligado desde os seus primórdios à indústria automotiva. Fabricantes usam as competições como meio para o desenvolvimento de tecnologias e materiais, além disso o esporte a motor é um universo simbólico atraente para o marketing dessas empresas. É muito interessante, em termos mercadológicos, vincular uma imagem vencedora, esportiva e masculina às marcas e aos produtos automotivos. Algumas equipes de competição também fazem o caminho contrário ao se tornarem fabricantes de automóveis de passeio esportivos, trazendo das pistas as bases de sua estratégia de negócio: conhecimento técnico e um imaginário simbólico de sucesso.

Um dos melhores exemplos desses laços entre competição e a indústria automotiva é a Lotus. A marca nasceu das mãos de Collin Chapman em 1947. Quando ainda era estudante de engenharia na Inglaterra, Chapman criou o seu Lotus Mark I, um carro desenvolvido para competições de trial e que usava a mecânica do Austin Seven. A partir daí uma série de outros carros artesanais para competições se seguiram, até que em 1952 o engenheiro inglês e sua mulher resolvem criar a Lotus Enginering Co. A empresa passa então a fabricar seus esportivos de forma mais industrial. Em 1957, Chapman tenta a sorte como piloto na Fórmula 1, guiando um Vanwall. No ano seguinte a Lotus entra definitivamente na categoria com o seu primeiro monoposto, o Type 12, que possuía um revolucionário sistema de suspensão. Outras inovações tecnológicas marcaram a passagem da Lotus pela F-1, principalmente as relacionadas a aerodinâmica. A mais marcante delas foi o famoso carro-asa onde a forma do assoalho e do aerofólio aumentavam a velocidade nas curvas.

Além de desenvolver grandes máquinas, a Lotus ficou também marcada por seus grandes pilotos. A equipe original competiu de 1958 até 1994 e o período mais vitorioso foi sem dúvida os anos 60 e 70. Foi nessa época que a equipe conquistou os seus 7 títulos como construtora e os seus 6 títulos de pilotos com Jim Clark (1963 e 1965), Graham Hill (1968), Jochen Hint (1970), Emerson Fittipaldi (1972) e Mario Andretti (1978). Desses pilotos, o mais emblemático é sem sombra de dúvida Jim Clark. Além de ser o primeiro piloto a ser campeão pela Lotus, Clark passou toda a sua carreira na Fórmula 1 correndo pela equipe. Foi ele também que conquistou a primeira vitória da Lotus nas 500 milhas de Indianápolis, no mesmo ano em que se tornaria bicampeão da F-1. Essas incursões da equipe pelos EUA e suas vitórias foram marcantes para a história do automobilismo. Não apenas por ter sido uma equipe européia vitoriosa do outro lado atlântico, mas principalmente por ter popularizado a propulsão traseira nos monopostos utilizados nos Estados Unidos.

Com todo esse valor histórico, não é de se estranha que quando a marca Lotus resolva voltar para as competições de fórmula, escolha as cores emblemáticas do carro que foi pilotado por Jim Clark. O ano escolhido para o retorno foi 2010, após a crise econômica que assolou a indústria do automóvel e forçou a debandada de vários fabricantes em diferentes tipos de esporte a mortor. Na Indy, a Lotus passou a ser patrocinadora de Takuma Sato na equipe KV. Na Fórmula 1, a marca retornou pelas mãos do malaio Tony Fernandes que montou uma nova equipe com o nome e o também clássico verde e amarelo da Lotus.

Em 2011, a presença da Lotus de certa forma se ampliou. Na Fórmula 1, o desentendimento entre a Proton, fabricante malaia atual proprietária da Lotus Car, e o empresário Tony Fernandes gerou a criação de duas equipes com o mesmo nome Lotus. A equipe de Fernandes teria os direitos de uso da marca Team Lotus (a antiga equipe de F-1) que seria de propriedade dos herdeiros de David Hunt, um ex-piloto. Já a fabricante de esportivos Lotus Car resolveu patrocinar a equipe Renault que foi comprada pelo grupo de investimentos Genii. A equipe agora se chama Lotus Renault e a montadora malaia dona da marca foi a justiça inglesa para retirar os direitos de Tony Fernandes. Apesar de terem um nome em comum, a diferença entre essas equipes é gritante em termos de performance, além de usarem cores bem diferentes. A pequena e fraca Team Lotus manteve as tradicionais cores verde e amarela usadas nos anos 60. Já a grande Lotus Renault  buscou inspiração nos carros dos anos 70, com o preto e o dourado da John Play Special, patrocinadora da Lotus naquela época.

A Indy teve também um aumento significativo na presença da Lotus. A parceria com a KV foi estendida e agora além de Takuma Sato, os pilotos Ernestro Viso e Tony Kanaan levam o verde e amarelo da marca inglesa de esportivos. O envolvimento simbólico é ainda maior no carro de Kanaan. O brasileiro tem em seu carro o número 82, o mesmo que Jim Clark usou na sua vitoriosa participação nas 500 milhas de Indianápolis em 1956. E parece ter dado sorte a Tony, já que o piloto terminou em terceiro no primeiro GP do ano.

Esse envolvimento da Lotus com a Indy vai ser ainda maior a partir de 2012. O novo regulamento da categoria levou ao desenvolvimento e adoção de um novo carro (que é padrão para todas as equipes) que poderá receber pacotes aerodinâmicos desenvolvidos por diversas empresas. Uma das que se interessaram é a própria Lotus. Além dos kits a empresa será uma das fornecedoras de motores para categoria, disputando espaço com a Chevrolet e atual fornecedora, a Honda.

Temos então uma marca com todo um histórico de sucesso e envolvimento com o esporte a motor. Retornando em um momento importante e muito interessante. Além de aproveitar o espaço aberto com a debandada de vários fabricantes da F-1 e da Indy, a Lotus Car está preparando o lançamento de novos carros esportivos de passeio para os próximos anos. E nada melhor que reforçar o caráter de esportividade e velocidade de seus produtos com a imagem de competições que trazem justamente esses valores. Uma ligação que não é superficial, não apenas porque existe toda uma memória relacionada a participação de sucesso da equipe Lotus nos anos 60 e 70, mas também porque a empresa por trás da marca se envolve diretamente com a parte de desenvolvimento tecnológico dessas categorias.

Este mesmo conteúdo também foi publicado em Dialética das Imagens.